A hanseníase é uma doença infecciosa e transmissível causada pela bactéria Mycobacterium leprae. Os principais sintomas da infecção incluem manchas na pele, sensação de formigamento e perda de sensibilidade. Em casos mais graves, o paciente pode sofrer danos neurológicos que causam deformidades e incapacidades físicas.
Por muitos anos, a hanseníase foi chamada de lepra e carregou um forte estigma social. Essa abordagem prejudicou a compreensão e o combate adequado à doença, que tem cura e um tratamento relativamente simples pela administração de antibióticos orais.
Hoje, o Brasil figura como pioneiro na criação da Lei n° 9.010/95, que proíbe linguagem discriminatória contra as pessoas acometidas pela hanseníase. Além disso, o tratamento para a doença está disponível à população de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Apesar dessas medidas, o Brasil ainda é o segundo país do mundo no ranking de casos de hanseníase, tendo registrado mais de 19 mil novos casos em 2024, segundo o Ministério da Saúde. Um tratamento mais humanizado e inovações em diagnóstico molecular podem reverter esse cenário nos próximos anos.
Entenda melhor o que é a hanseníase e os avanços no combate a esta doença milenar!
Existe muito debate sobre a origem da hanseníase, mas há registros datados de mais de 4.000 anos atrás que já descrevem essa doença. Apesar de sua longa história, ainda em 2023, a OMS registrou 182.815 novos casos no mundo.
No Brasil, foram registrados 19.469 novos casos em 2024 e, apesar de uma queda de 8,6% em relação ao ano anterior, o país ainda figura em segundo lugar com maior número de casos no mundo.
Antes conhecida como lepra, a hanseníase é causada pela infecção da bactéria Mycobacterium leprae e pode afetar pessoas de qualquer sexo ou faixa etária. Apesar de não possuir um grupo de risco específico, a hanseníase tende a ser mais incidente em comunidades de baixo poder socioeconômico.
Devido ao estigma social, falta de compreensão e negligência em torno da doença, a infecção alastra-se entre a população mais suscetível. A bactéria é transmitida por meio de gotículas de saliva de pessoas infectadas, já na fase sintomática da doença, e que não fazem o tratamento, sendo necessário um contato próximo e prolongado para a transmissão.
O período de incubação da hanseníase é bastante longo. Entre a infecção pela bactéria e o aparecimento dos primeiros sintomas, podem passar de 2 a 7 anos. Vale salientar também que, como ocorre na maioria dos casos, é possível ter contato com a bactéria e não desenvolver a doença.
A hanseníase pode se apresentar de duas formas. A forma mais branda da doença, chamada de hanseníase paucibacilar (PB) e considerada como um estágio inicial. Esta é caracterizada pela presença de uma baixa quantidade de bacilos e um pequeno número de lesões na pele. Neste estágio, há menor chance de transmissão.
Já em sua apresentação mais grave, a hanseníase multibacilar (MB), há uma quantidade elevada de bacilos e mais de cinco lesões na pele. Essa forma ocorre quando a infecção não é tratada e é o tipo mais comum, representando mais de 70% dos casos.
O sintoma mais característico da hanseníase é a presença de manchas na pele com alteração de sensibilidade na região. O paciente percebe manchas esbranquiçadas, vermelhas ou amarronzadas na pele acompanhadas da perda de sensibilidade à estímulos de temperatura (calor ou frio), tato ou dor.
Também podem ser observadas áreas, mesmo sem manchas, mas que apresentaram alteração de sensibilidade, redução da produção de suor e ausência de pelos corporais. Em alguns casos, formam-se nódulos, inchaços ou placas, podendo apresentar vermelhidão e dor.
O avanço da doença causa danos neurológicos que podem ser percebidos como sensação de dormência, formigamento ou fisgadas, principalmente nas mãos e pés. Também há diminuição do tônus muscular. O paciente começa a deixar objetos caírem com frequência acima do normal e passa a ter dificuldades de coordenação motora.
Ao longo do tempo, a deterioração dos nervos pode causar deformidades e deficiências físicas tornando o paciente incapaz. A doença torna-se debilitante impedindo a realização de tarefas de exigem coordenação fina, a prática de esportes e a locomoção de modo geral.
Não existe um método específico para a prevenção da hanseníase na população geral, exceto a conscientização sobre a doença favorecendo o diagnóstico precoce e o tratamento adequado. No caso de pessoas que tiveram contato próximo com pacientes infectados, é oferecida a vacina BCG, utilizada na prevenção à tuberculose e que previne também a infecção pelo Mycobacterium leprae.
A hanseníase tem cura. O tratamento é relativamente simples, realizado por meio da administração oral de antibióticos. Tradicionalmente, é realizada a associação de três antimicrobianos (rifampicina, dapsona e clofazimina), que eliminam a bactéria causadora da doença.
Nos estágios iniciais da doença, o tratamento dura em torno de 6 meses, mas em casos mais avançados, pode durar até um ano. Ainda assim, não há necessidade de internação do paciente, apenas um acompanhamento médico periódico para avaliação do quadro.
É importante destacar que tanto o acompanhamento médico quanto os medicamentos para o tratamento da hanseníase podem ser acessados gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Já no início do tratamento, o paciente deixa de transmitir a doença, pode observar a supressão de sintomas e melhorias na qualidade de vida. Apesar de não ser possível reverter danos neurológicos, o tratamento impede que a doença evolua para quadros ainda mais graves.
O diagnóstico precoce da hanseníase é a principal ferramenta para combater o avanço da doença no Brasil e no mundo. Quanto antes identificada e tratada, menores são as taxas de transmissão da doença entre a população. Uma identificação rápida também favorece o paciente, evitando a evolução da doença para quadros mais graves e com grande comprometimento neurológico.
Existe uma combinação de métodos que são tradicionalmente utilizados no diagnóstico da hanseníase. Inicialmente, é realizado um diagnóstico clínico, por meio do exame físico, dermatológico, neurológico e de relatos do paciente para avaliar os sintomas presentes.
O teste rápido, que identifica a presença de anticorpos específicos para hanseníase a partir de uma amostra de sangue, pode ser utilizado para a triagem de pacientes ou como método complementar.
O exame diagnóstico mais comum para a hanseníase, no entanto, é a baciloscopia, um teste laboratorial que busca identificar a presença da bactéria em amostras de tecido. Apesar de amplamente utilizado, esse teste possui uma alta taxa de falsos negativos nas fases iniciais da doença.
Já o diagnóstico molecular, baseado no método PCR e DNA-STRIP, identifica a presença da bactéria em amostras de tecido com alta sensibilidade. Além disso, o método detecta também a presença de resistência a medicamentos, favorecendo não apenas um tratamento precoce, mas também personalizado.
O GenoType LepraeDR é o ensaio molecular genético da Mobius para a detecção de Mycobacterium leprae e sua resistência à rifampicina, ofloxacina e dapsona. É o primeiro sistema de teste comercial para a detecção molecular da hanseníase no Brasil, representando um avanço no panorama da doença.
A maior vantagem da solução é sua alta sensibilidade, aliada a agilidade diagnóstica. O DNA é extraído a partir de amostras de baciloscopia cutânea positiva, amplificado por PCR e detectado em uma membrana strip utilizando hibridização reversa e uma reação de coloração enzimática.
Os resultados com informações detalhadas estão disponíveis em apenas algumas horas. Combinado com a detecção de resistência às drogas de primeira e segunda linha, o teste permite uma abordagem precoce e adequada que reduz as consequências da doença à longo prazo.
https://portal.fiocruz.br/doenca/hanseniase
https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/h/hanseniase