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Tempo de Cuidar, Mulheres Colino: A história de mãe e filha que enfrentaram o câncer de mama

Uma em cada oito mulheres poderá desenvolver câncer de mama ao longo da vida. E no caso da família Colino, mãe e filha passaram pelo desafio de encarar esse que é o câncer mais comum entre mulheres.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), são cerca de 73 mil novos casos por ano no Brasil. É uma doença silenciosa, que muitas vezes não dá sinais evidentes e, justamente por isso, o tempo se torna um aliado poderoso.

Embora a maioria dos casos ocorra em mulheres acima dos 50 anos, cerca de 30% são registrados em pacientes com menos de 40. Helena tinha apenas 23 quando descobriu o câncer, um ano depois de sua mãe.

Sua história é um lembrete urgente de que juventude não é sinônimo de invulnerabilidade. E que cuidar do corpo, ouvir seus sinais e buscar informação pode salvar vidas.

Histórias que se cruzam

Foi em meados de 2023 que Letícia de Cassia Colino Niquin começou a perceber que algo em seu corpo não estava como antes. Uma pequena formação na mama surgiu quase despercebida, mas com o tempo, cresceu.

Professora dedicada, Letícia seguiu com a rotina escolar até que, em outubro, decidiu marcar uma consulta com o ginecologista. Na mesma hora, foi encaminhada para exames mais detalhados.

Em outubro, a professora marcou uma consulta com o ginecologista onde na mesma hora foi encaminhada para realizar os exames necessários para investigar o que havia de diferente.

Mas o tempo, esse que tantas vezes escapa entre compromissos e urgências, passou. Só em dezembro Letícia conseguiu realizar os exames.

“Eu pensei: deve ser qualquer outra coisa. Não tô sentindo nada, não tem sintoma nenhum”, relembra.

Durante o próprio ultrassom das mamas, ela foi orientada a procurar um especialista. E foi durante uma ressonância que foi descoberto o diagnóstico BI-RADS 4, um indicativo de alta probabilidade de câncer. No exame seguinte, ela obteve a resposta final indicando um carcinoma invasivo.

Entre tratamentos e medos, surgiu a dúvida: o câncer poderia ser genético? Até então, essa hipótese parecia distante. Não havia histórico de câncer de mama na família. Mesmo assim, Letícia decidiu fazer o painel genético. E foi aí que a vida das Colino virou mais uma página.

O resultado revelou uma mutação no gene BRCA2, uma alteração que aumenta significativamente o risco de desenvolver câncer de mama e ovário. Com isso, Helena, sua filha, também passou pelo exame. E descobriu que havia herdado a mesma mutação.

Genética, herança familiar e uma nova visão sobre a juventude: Helena e o diagnóstico aos 23 anos

Apenas de 5% a 10% dos casos de câncer de mama são hereditários, ou seja, causados por mutações genéticas herdadas. Por isso que, descobrir um diagnóstico, herdado de uma mutação genética, com apenas 23 anos, foi um grande baque.

Helena estava no último ano da faculdade quando, por orientação da equipe da mãe, realizou o teste genético. Como milhares de outras mulheres, ela também pensava que “isso não acontece com gente nova”.

O painel genético confirmou a mutação no gene BRCA2. Naquele momento, o resultado ainda era apenas um alerta, um indicativo de risco. Mas foi a ressonância que trouxe a notícia mais dura: BI-RADS 5, um tumor de 5 cm na mama esquerda.

“Depois de minha mãe passar por todo o tratamento dela, a gente estava juntando força pra comemorar e falar acabou, a gente descobriu que não tinha acabo”, relembrou Helena.

Com apenas 23 anos, ela se sentiu “traída” pelo próprio corpo, uma vez que pouco se associa a doença às jovens, mas a realidade é diferente.

No Brasil, cerca de 10% dos casos de câncer de mama ocorrem em mulheres com menos de 40 anos.

O diagnóstico: quando o tempo se torna a chave para a esperança

O câncer de mama é uma doença silenciosa. Muitas vezes, não dói, não avisa. E por isso, o tempo se torna um dos maiores aliados na luta pela cura.

Quanto mais cedo o diagnóstico, maiores as chances de um tratamento eficaz e menos invasivo. E foi justamente esse tempo que se tornou a chave da esperança para as Colino.

Segundo a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), quando o câncer de mama é detectado em estágios iniciais, as chances de cura podem chegar a até 90%

Apesar da agressividade dos tumores de Letícia e Helena, o diagnóstico ágil permitiu uma abordagem eficaz, que envolveu quimioterapia, radioterapia e cirurgia.

A jornada que começou com a mãe, se transformou em uma corrente de cuidado. Letícia, ao enfrentar o próprio diagnóstico, abriu caminho para que a filha pudesse se cuidar a tempo.

Nesse meio-tempo, entre a descoberta do câncer da mãe, o tratamento e o diagnóstico de Helena, nasceu também um propósito.

Entrando na fase de final da faculdade, Helena escolheu mostrar a sua jornada. Seu TCC se tornou um documentário que acompanhou todos os altos e baixos da sua trajetória.

Câncer de mama hereditário: quando a genética conta parte da história

Nem sempre o câncer de mama surge por acaso. Cerca de 5 a 10% dos casos, a doença está relacionada a fatores hereditários – alterações nos genes que podem ser transmitidas de pais para filhos.

O papel dos genes BRCA1, BRCA2 e outros relacionados

Os genes BRCA1 e BRCA2 são os mais conhecidos quando falamos em predisposição genética ao câncer. Eles atuam como “protetores” do DNA, ajudando a reparar danos celulares e evitando que células defeituosas se transformem em tumores.
Quando sofrem mutações (variantes patogênicas), essa proteção se perde, aumentando consideravelmente o risco de cânceres de mama e de ovário.

  • Mulheres com mutações no BRCA1 podem ter um risco acumulado de desenvolver câncer de mama que atinge 72% ao longo da vida.
  • No caso do BRCA2, esse risco pode chegar a 69% ao longo da vida.
  • Além disso, os dois genes elevam o risco de câncer de ovário: cerca de 44% para BRCA1 e 17% para BRCA2.

Mas não são apenas eles: outras mutações também estão relacionadas ao aumento do risco de câncer de mama e de outros tumores. Entre elas:

  • TP53 – ligado à síndrome de Li-Fraumeni, aumenta o risco de câncer de mama em idade jovem e de outros tumores, como sarcomas e leucemias.
  • ATM – associado ao risco moderado de câncer de mama; em homozigose causa a síndrome de ataxia-telangiectasia.
  • PALB2 – trabalha em conjunto com o BRCA2 na reparação do DNA; mutações podem elevar o risco de câncer de mama para até 58% ao longo da vida.
  • CHEK2 – aumenta o risco de câncer de mama e, em alguns casos, também de câncer colorretal.

IMPORTANTE: Ter uma mutação genética não significa certeza de desenvolver a doença, mas exige acompanhamento médico especializado e estratégias de rastreamento personalizadas.

Tempo de esperança: novos começos e propósito

Foi assim que nasceu o “Não Há Mal que Dure Cem Anos”, documentário que acompanhou um ano da vida de Helena.

“Durante o tratamento eu me lembrava dessa frase, e que as coisas passam, eventualmente”, conta.

Apaixonada por audiovisual, Helena já sonhava em produzir um filme, inicialmente sobre o autismo infantil. Mas quando ela recebeu o diagnóstico, mais do que o baque, ela se viu diante de uma oportunidade: mostrar para outras mulheres que o câncer de mama pode ser enfrentado com coragem, informação e esperança.

Ela começou a filmar então cada detalhe da sua rotina, com um objetivo claro: criar um documentário sobre câncer com final feliz.

“Isso me deu muito propósito, muita vontade de continuar vivendo.”, relembra Helena.

Hoje, tanto ela como a mãe já finalizaram seus tratamentos, mas mantém a rotina de acompanhamento, que é fundamental. Além de medicamentos para controle hormonal, elas também mantêm um cronograma de exames para garantir que o câncer não volte.

“O tempo é a cura, quanto mais cedo você descobrir, mais fácil é o tratamento e maior a chance de cura, então não deixe o tempo passar”, ressalta Letícia.

A história das Colino é um lembrete de que o câncer de mama não tem idade, e que o tempo pode salvar vidas. Helena e Letícia transformaram dor em força, medo em movimento, e diagnóstico em propósito.

Neste Outubro Rosa, a campanha Tempo de Cuidar convida todas as mulheres a olharem para si com carinho, escutarem seus corpos e não adiarem o cuidado. Porque quando se trata de câncer de mama, cada dia conta. E cada história pode ser uma história de cura.

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Referências

BRCA1 e BRCA2 em câncer de mama

Mais de 40% dos casos de câncer de mama acontecem em mulheres com menos de 50 anos | FEMAMA

Detecção precoce do câncer de mama pode aumentar em até 90% as chances de cura