A gripe é uma das doenças mais antigas já registrada. E ao longo dos séculos, diversas variantes deixaram marcos na humanidade.
O primeiro registro dessa enfermidade data de 412 a.C. A descrição foi feita pelo médico grego Hipócrates, considerado o pai da medicina.
No “Livro das Epidemias”, ele supostamente descreveu sintomas de uma síndrome muito semelhantes aos da gripe. Na obra, a enfermidade foi chamada de “febre de Perinto” ou “tosse de Perinto”.
Os registros apontam que a doença parecia sempre no inverno e na primavera, todos os anos em Perinthus, uma cidade portuária em Marmaraereglisi, localizada no norte da antiga Grécia, região na qual hoje fica Turquia.
Já nos séculos 1173 e 1500, dois outros possíveis surtos de gripe foram descritos em estudos médicos, mas com poucos detalhes para que houvesse algum aprofundamento.
Foi no século XV, na Itália, que o termo “gripe” teve origem. Ele surgiu a partir de uma epidemia que ocorreu, e que teve como causa atribuída a “influência das estrelas.
Diversos tipos de gripes foram registrados através da história. Algumas, datadas há séculos, chegaram a ser responsáveis pelas mortes de milhões de pessoas.
Já outras, possuem surtos registrados até hoje, e que exige atenção constante, para que não venham a se tornar novas pandemias.
Estima-se que a Gripe Russa foi a primeira grande pandemia documentada da Era Industrial. Apesar de não existirem registros históricos que comprovem qual foi o agente patógeno causado, estudiosos apontam que possivelmente ela foi ocasionada pela Influenza H3N8 ou H2N2.
Além disso, aponta-se que o ela teve como epicentro provável a Ásia Central. Essa espalhou-se rapidamente pela Europa, por meio dos transportes feitos em vias ferroviárias. Estima-se que causou cerca de 1 milhão de mortes.
Menos de 30 anos após o surgimento da primeira grande pandemia, tivemos aquela que é considerada até hoje a mais mortal da história moderna. Estima-se que ela atingiu 1/3 da população da época, sendo extremamente devastadora, causando cerca de até 50 milhões de óbitos, número superior ao de mortes da Primeira Guerra Mundial, que foram entre 10 e 20 milhões.
Há diversas linhas que apontam diferentes locais de surgimento da enfermidade, dentre eles França, China e Vietnã, mas sem um consenso. Oficialmente, o primeiro caso foi registrado em março de 1918, no acampamento militar de Funston, em Fort Riley, no Kansas, nos Estados Unidos.
Na época, o cozinheiro Albert Gitchell deu entrada na enfermaria com queixa de febre, cefaleia e odinofagia. Poucas horas depois, mais de 100 pessoas também tinham dado entrada com os mesmos sintomas.
Dali por diante, a disseminação foi rápida. Já em abril, a enfermidade havia alcançado zonas urbanas centrais e costeiras do leste dos Estados Unidos, e começava a ser reportada na França. Em maio, foi identificada em países como Inglaterra, Itália, Espanha, Índia, China e Japão. E em junho já podia ser registrada na Oceania pela Austrália.
Apesar da rápida disseminação, essa primeira onda foi considerada menos grave. Isso porque ela teve uma taxa de mortalidade relativamente baixa.
Foi a segunda onda, que iniciou em meados de agosto de 1918, que foi realmente devastadora. Além de uma capacidade de contágio superior, a taxa de letalidade era maior.
Os sintomas, que eram associados como de uma pneumonia rápida, apareciam em pouco tempo. A morte era consequência praticamente certeira, e acontecia cerca de 48 horas após o início dos sintomas.
Em setembro de 1918, a enfermidade teve seus primeiros registros no Brasil, e foi rapidamente disseminada por meio dos grandes centros urbanos.
O modus operandi do vírus, atrelado a falta de vacinas, as condições de miséria de diversos países, a falta de organização sanitária e de comunicação eficiente com a população, além do cenário de guerra, fizeram dessa pandemia a maior que se tem registro dentro da História Moderna.
A Gripe Espanhola recebeu esse nome pois os jornais espanhóis foram os primeiros a tratar a enfermidade como pandemia. Isso aconteceu por conta de todo o contexto da Primeira Guerra Mundial.
Os países em guerra possuíam uma censura militar que impediu dos jornais das respectivas nações a noticiarem a doença, como uma maneira de impedir que inimigos estivessem a par de questões sensíveis.
Apenas a Espanha, que na época tinha uma posição neutra, adotou uma ampla divulgação, e com isso, o nome Gripe Espanhola se popularizou.
A Gripe Asiática teve origem em 1957, na China, e se destacou por ter como origem uma nova cepa de Influenza A. Ela surgiu por meio de uma mistura de vírus humano e aviário.
Assim como outras enfermidades do gênero, os sintomas iam de febre até tosse, além de fraqueza e calafrios. Um dos grandes diferenciais dessa epidemia global é que, pela primeira vez, a investigação laboratorial era uma possibilidade.
Além disso, outro marco dessa pandemia foi a estratégia de vacinação. No primeiro surto da doença, a população não possuía antígenos adequados para combatê-la.
Com isso, um protocolo robusto de vacinação foi implementado a nível mundial. A resposta rápida refletiu diretamente nas ondas seguintes, onde foi possível identificar uma resposta mais otimista, com diminuição nos casos graves e óbitos. E isso foi decisivo para o desenvolvimento posterior de outras vacinas com foco na gripe.
Em 1968, um aumento incomum e repentino de casos de influenza chamou a atenção na China. O Centro Nacional de Influenza da Universidade de Hong Kong isolou o novo vírus influenza A (H3N2), sendo identificado como uma variação da cepa do que era chamado de “gripe moderna”.
Apesar da rápida identificação, o fato de Hong Kong ser um polo de viagens internacionais acabou contribuindo com uma disseminação ainda mais veloz. Cerca de 160 milhões de pessoas passaram pela cidade durante a pandemia, o que facilitou a transmissão rápida no mundo todo.
O H3N2 foi responsável por cerca de 1 milhão de mortes no mundo. Na época, o arsenal para combate e prevenção da doença auxiliou na mitigação de danos. No entanto, por se tratar de um vírus que sofre mutações rapidamente, ele permanece em circulação sazonal até hoje.
Já nos anos 2000, uma das influenzas que entrou em evidência mundial foi a chamada Gripe Suína. Causada por uma nova cepa que combinava genes de gripes suínas, aviárias e humanas, ela teve seus primeiros registros no México.
Em 2009, a Organização Mundial de Saúde emitiu o alerta pandêmico sobre essa enfermidade. O que mais chamava a atenção nesse vírus, que aumentou o temor até mesmo na comunidade cientifica, foi que ele mostrava características genéticas distintas em relação às cepas de influenza sazonal e às cepas de vacina.
A diferenciação mais marcante em relação a outras cepas foi a fácil disseminação entre jovens, e a taxa de mortalidade. Para se ter uma ideia do nível de gravidade, o primeiro caso identificado ocorreu em abril de 2009, e em junho, a OMS declarou fase 6 da pandemia.
Assim como em outras ocasiões, o mundo teve que adotar medidas de combate, prevenção e tratamento. E em 2010, a OMS pode declarar o fim dessa pandemia.
A OMS possui uma escala pandêmica de seis níveis que serve como sistema para alertar o mundo da gravidade da ameaça, bem como a intensidade de medidas e ações de combate.
Ela vai de 1 a 6, sendo que a fase 1 representa quando a infecção ainda tem poucos casos identificados em humanos, e 6 sendo o nível mais alto, que indica que a pandemia está em andamento perto do seu auge.
O primeiro registro da Gripe Aviária foi feito em 2013, a princípio em aves. Desde então, ela já teve registro tanto em animais como em humanos, e se destaca pela sua alta letalidade, com taxa próxima a 40%.
Importante ressaltar que, se tratando dessa enfermidade em específico, os casos em humanos ocorreram por conta da exposição a aves vivas ou a ambientes potencialmente contaminados, especialmente mercados onde aves vivas eram vendidas.
Não houve registros de transmissão sustentada de humano para humano. No entanto, por conta da gravidade, surtos esporádicos que exigem medidas drásticas de controle (como abate de aves) e da taxa de letalidade alta, ela também se tornou um registro histórico importante.
Apesar de não ser especificamente uma influenza, não há como deixar de citar a Covid-19 (SARS-CoV-2). Ela foi pandemia respiratória viral sem precedentes, que mais uma vez trouxe muitas mudanças no modo de enfrentamento.
Causada por um coronavírus de origem zoonótica, ela teve origem na China, mas também se espalhou rapidamente pelo mundo. O primeiro caso foi registrado em 31 de dezembro de 2019. Muitos estudiosos apontam que as viagens de fim de ano contribuíram para a rápida disseminação da doença.
Os impactos sanitários, sociais e econômicos ocorreram todo o mundo. Em diversos países, apenas medidas como lockdown completo surtiram efeito para frear a disseminação.
A pandemia teve duração oficial de três anos, mas deixou sequelas que até hoje são enfrentadas. No Brasil, mais de 700 mil mortes foram registradas, além da exposição do despreparo de hospitais em todo o país, que presenciaram falta de insumos básicos.
Com a rapidez no avanço da gravidade da pandemia, a agilidade foi fundamental no enfrentamento. No Brasil, duas pesquisadoras da Universidade de São Paulo sequenciaram o genoma do chamado coronavírus (SARS-CoV-2) apenas 48 horas após o registro do primeiro caso no Brasil.
Ester Sabino, professora da Faculdade de Medicina (FM-USP) e diretora do Instituto de Medicina Tropical (IMT-USP) e Jaqueline Goes de Jesus, pós-doutoranda do IMT-USP com bolsa Fapesp, foram as responsáveis pelo feito, que rendeu até mesmo premiações na comunidade cientifica.
As gripes através da história foram responsáveis por diversas sequelas que duram até hoje em todo mundo. No entanto, o enfrentamento e a evolução nas pesquisas também foram responsáveis pelo desenvolvimento de novas maneiras de prevenção.
O desenvolvimento de vacinas foi uma das maiores conquistas da medicina moderna no combate às gripes e outras doenças respiratórias. A partir das descobertas sobre a origem viral da gripe, cientistas conseguiram não apenas isolar o vírus da influenza, como também criar as primeiras vacinas experimentais lá na década de 1930.
Desde então, as vacinas têm evoluído continuamente, sendo reformuladas e aprimoradas ano após ano. Essa atualização constante é necessária porque o vírus sofre alterações genéticas rápidas, que podem gerar novas variantes com maior capacidade de disseminação ou resistência imunológica.
Hoje, a vacinação sazonal é uma das formas mais eficazes de reduzir hospitalizações, óbitos e sobrecarga no sistema de saúde. Além disso, grupos prioritários — como idosos, gestantes, crianças pequenas e imunossuprimidos — são os mais beneficiados pela proteção conferida.
A experiência com pandemias também reforçou a importância da vigilância global e da produção em larga escala de vacinas. Durante a pandemia de Covid-19, por exemplo, o mundo vivenciou um salto científico sem precedentes com a criação e distribuição de vacinas em tempo recorde, baseadas em tecnologias inovadoras como o RNA mensageiro.
No Brasil, o SUS possui um Calendário Vacinal com mais de 40 vacinas (voltadas para gripes e outras enfermidades) disponibilizadas de forma gratuita para a população, e que se destaca a nível internacional.
Além das vacinas, outro avanço que tem contribuído ativamente para as mais diversas variantes de influenza, bem como outras doenças é o diagnóstico molecular.
Com o avanço das técnicas laboratoriais, o diagnóstico molecular tornou-se o padrão-ouro para a detecção dos vírus influenza e SARS-CoV-2.
Essa tecnologia permite identificar a presença do material genético viral nas primeiras horas de infecção, mesmo antes do início dos sintomas. Isso possibilita uma tomada de decisão clínica mais eficaz, com início precoce do tratamento antiviral e medidas de isolamento, reduzindo significativamente a transmissão da doença.
Além disso, o diagnóstico molecular é uma ferramenta crucial para a vigilância epidemiológica. Ele permite mapear com precisão a circulação de variantes virais, identificar surtos e embasar estratégias públicas de vacinação e controle sanitário.
A Mobius, por exemplo, conta com uma solução PCR em Tempo Real One Step que permite a detectação dos vírus da influenza A e B, bem como o SARS-CoV-2. O Kit COVID-19/FLU A/FLU B possui todos os reagentes necessários, inclusive para controle Positivo e Negativo.
Ele também oferece um diagnóstico de alta sensibilidade, bem como resultados em poucas horas.
Outra solução que também pode auxiliar na identificação de doenças respiratórias é o PR24 Flow Chip. Ele permite a identificação de até 24 patógenos, incluindo os principais vírus responsáveis por hospitalizações e óbitos por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave), tais como: SARS-CoV-2, Influenza H1N1 e RSV.
Soluções como essa são indispensáveis não apenas para a detecção rápida e precisa da gripe, mas também para o monitoramento e controle de surtos.
Ao identificar com exatidão o agente viral envolvido, essa tecnologia viabiliza uma resposta clínica mais eficaz e estratégias públicas mais assertivas.
Assim, o diagnóstico molecular pode proporcionar a saúde coletiva por meio do conhecimento, prevenção e ação.
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